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algo sobre cantinflas e meu caminho em direção ao palhaço

comento como se fosse teatro porque pelo cinema não creio optar, ao menos por enquanto.
alguém se lembra de cantinflas? do carlitos mexicano?
minha mãe viu muito dele durante a juventude. eu não me lembrava.
acabo de vir assistir o grande fotógrafo, dele, comemorando seu centenário.
cantinflas era tão conhecido que o próprio charles chaplin disse, ao que parece, que ele era o palhaço mais engraçado do mundo.
meu interesse é na linguagem desses palhaços.
explico.
há alguns meses, talvez um ou dois anos, fiz uma oficina de palhaço.
não me agrada a figura do palhaço. queria algo tipo carlitos. ou, mais recentemente, algo tipo cotoco, do barracão teatro (ésio magalhães). ou buster keaton.
durante a oficina, houve um pequeno exercício - a gente devia bolar um número curto de nosso palhaço.
meu número - houve dois, o outro conto depois - consistia em cantar il pagliacci, de leoncavallo, enquanto me pintava de palhaço. fiz. agradou mais ou menos. mas uma observação da silvia leblon, a profe, captou minha atenção. meu número estava entre o ridículo e o triste. a gente não sabia se ria ou se chorava, disse ela. era um palhaço estranho.
quando fiz o teatro é isso (nascimento de um palhaço), eu queria dar a nascer meu personagem. ainda sem traços, quase idêntico a mim mesmo. ninguém, claro, captou a mensagem. era uma mensagem escondida, só minha.
mas meu palhaço ainda não nasceu, realmente. preciso criá-lo. e tento captar subsídios de todos os lados.
não me iludo. não quero satisfazer o meu ego, com isso. é uma necessidade intrínseca, só minha. nada a vender a ninguém. mas, claro, o palhaço só existe PARA O OUTRO. então, é algo também para os outros.
minha mandala de palavras, feita com a mercedes, minha ex-terapeuta, dizia que eu estava num embate entre o ridículo e a autodestruição (havia outro componente de que não me lembro).
vem daí meu interesse primordial pelo palhaço.
nos próximos dias, tentarei uma oficina com o barracão. pois algo no cotoco me pegou de vez. mas conseguindo ou não continuarei na busca.
e o cantinflas?
bom, é curioso. ele fala. tem um caráter sem-caráter. viaja nas expressões de um palhaço que ele não é. muito a dizer. muito a perceber. o festival continuará nos próximos dias e talvez amanhã mesmo eu vá assistir outro filme dele, sua excelência.
vai que dá tempo.
preciso correr contra o tempo.
muito a aprender. muito a fazer.

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