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tudo começou com um aquecimento.
aquecimento que cada um fez de sua forma toda particular.
houve quem privilegiasse movimentos suaves, muito provavelmente apreendidos em continentes outros como o asiático.
outro forçava as mãos como se viesse a desenvolver socos, o que não era de forma alguma previsto.
houve quem preferisse alonga-se como se viesse a desenvolver uma atividade aeróbica qualquer.
já outro, mais desenvolto, alongou-se desde já prevendo a chegada do personagem a si mesmo.
um alongamento comum irmanou esses que possuem fenotipos diferenciados, adaptados - na cabeça do diretor por enquanto - aos personagens que irão vir a desenvolver.
a proposta passou a ser então a defesa do seu personagem em especial apenas fisicamente, sem a emissão de sons ou coisa que o valha.
o atomismo do comportamento de cada um, centrado acima de tudo em si mas descentrado a si mesmo - como exigido do papel, seguindo as orientaçõesdo diretor -, desde já prenunciava a ausência de relação íntima, a quase sintomática ausência de empatia entre personagens perdidos em relação ao todo e cuja relação não é simplesmente dialógica.
houve o momento em que eles passaram a emitir sons, e esses já apresentavam direções - mesmo que mudas, no caso de lucky - que passaram a dizer claramente respeito ao seu lugar no mundo, em relação às coisas cercanas - ou distantes - e em relação à forma como eram abordadas e por que não dizer abortadas. abortos presentes nas afirmações e na incapacidade de engrenar algo o mais próximo da humanidade. humanidade? para quê mesmo?
aí eles passaram a discorrer em palavras inventadas. a aproximarem-se do linguístico sem permanecerem limitados por ele. a criar o liame necessário para vontades difusas. as duplas originaram-se naturalmente, bem de acordo com o que godot poderia mesmo esperar. sim, godot, aquele que mal desaparece sempre em cena porque nunca encenado.
foi quase de supetão que os personagens começaram a realmente se relacionar. a estabelecer diálogos, a criar liames entre si, sem contudo estabelecerem esses liames de uma vez por todas. a cada frase, o começo. um começo sem fim.
e assim vão os ensaios.

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