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teatro, hill e diversão

comecei no teatro pelas vias do gerald thomas, que em 2006 me permitiu acompanhar ensaios na coxia do sesc vila mariana e do viga, lá no sumaré.
comecei também pela via do beckett, não do teatro da vertigem nem realismos que grassam por aí.
mas hoje o panorama é outro.
bebo de realismo todo santo dia e a linguagem dos quadrinhos invade cada vez mais meu imaginário.
estou para fazer uma peça curta no teatro cemitério e a influência dos quadrinhos é patente, pelo que pude perceber ontem nos ensaios das três novas peças a serem apresentadas naquele teatro.
houve também algo mais.
hoje noto a força que interpretar para fora, não só para dentro, e por isso começo a sentir um certo arrepio dessas peças que buscam introjetar cada vez mais os conflitos.
ocorre que, embora eu ainda não tenha me tornado independente de tantas influências, principio a tentar encontrar o tom certo para tudo que se me apresenta.
esse tom não é para dentro. nem para fora, necessariamente. é um tom que me convence, e que às vezes consigo estipular para mim mesmo no palco.
se eu tivesse ficado preso a beckett, hoje a crise seria muito mais real do que é. se tivesse permanecido num limbo quase inexpressivo, veria o mundo muito mais chato do que ele realmente é.
ontem, na palestra do filipe sobre walter hill, percebi que nos filmes desse cara o conflito quase sempre está presente de forma quase banal. a ação serve para dar o tom da coisa, mas não há quase complexidade em tudo o que acontece na tela. claro, nada é virtualmente simples. sempre há o que captar até do mais singelo. até de meras perseguições.
fico um pouco constrangido, contudo, com o fato de, ao atuar numa peça como convidado, pareça me distanciar dela cada vez mais. como se no meio do furacão tudo perdesse perspectiva. e é o que acontece.
enquanto isso, a gente decora e coloca em prática algo que muitas vezes nem percebemos realmente o que é. e nos divertimos - algo que eu jamais imaginei conseguir fazer.

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