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Álbum de Família (August: Osage County), de Tracy Letts, dirigido por John Wells

Fiquei sabendo que a Meryl Streep arrasa neste filme, e esse foi um dos motivos para me interessar por ele.
Outro foi reparar que ele trata de problemas familiares, e hoje me sinto mais à vontade com isso.
Outro foi notar que o grupo de teatro que eu lidero necessariamente irá precisar de novas cenas, e que ver filmes bons atrai boas influências.
Meryl Streep é a matriarca de uma família cujo patriarca sumiu e que depois é encontrado morto. As filhas e seus cônjuges aparecem todos de uma vez nessa casa que prima pelo calor e que descansa, solitária, numa imensidão de nada.
A personagem de Streep se entope de medicamentos e tudo começa com o patriarca contratando uma enfermeira de origem indígena para a mulher, que irá logo ser operada de câncer na boca.
Por um momento, acho que tudo irá rondar a operação. Mas não podia ser isso. O enterro e o almoço que se seguem são o palco para uma lavagem de roupa suja que termina em violência e que não dá espaço para nada além da tragédia de mulheres e homens comuns. Não irei contar detalhes da trama para não tirar a surpresa.
O final mostra a imensidão do local, fotografado num horizonte intransponível, em que tudo parece pequeno. E é.
A Streep, a respeito de quem não tenho especial simpatia, arrasa realmente, mas a Julia Roberts também e pequenos papéis sobressaltam da tela. O filme, torna-se claro, é uma peça de teatro - mas que é tratada como filme, e não simplesmente transposta à telona.
Abriu-me comportas importantes, o filme.

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