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mas eu caio fora

de 1985 a 2007, mais ou menos, eu tive aulas e mais aulas.
sempre de alto nível.
em que era motivado a me envolver.
em que lia o que era mais atual para tentar entender a conjuntura e a estrutura.
ouvi muito. li bastante. discuti também o suficiente.
não tenho mais saco.
eu sei que numa conversa sempre há como que um movimento rumo ao centrípeto, à concordância. como que um movimento rumo ao consenso.
mas há alguns anos reparei como isso muitas vezes é chato. principalmente quando aquele que se dispõe a liderar a discussão possui uma convicção férrea que não dá espaço para mais nada.
sinto nessas ocasiões que minha opinião E EU MESMO somos colocados numa caixinha tal que expressa a situação de que não valemos virtualmente nada.
é diferente de papos de bar.
em papos de bar, os assuntos vão e vêm, as posições são elencadas em voz alta, sem muitos traquejos retóricos, e quem concorda, tudo bem, e quem discorda, tudo bem também. em algumas rodas de bar.
mas sempre tem aqueles que querem impor sua opinião. nessas ocasiões, ocorre um silêncio que deixa o tempo passar e que dá a deixa para alguém partir do zero rumo a outros horizontes. nada mais chato num papo de bar do que aqueles que tentam IMPOR sua opinião. cada um TEM sua opinião, isso é claro. mas impor é para gente chata. muito chata.
continuo curioso.
leio uma penca de revistas, das especialidades em que me formei e outras.
leio muitos livros.
mantenho a curiosidade viva. e tento manter o bom humor e não levar tudo tão a sério.
tenho meus autores preferidos. mas não tento - mais - decifrá-los. não tento concordar com eles. não assinto por costume. fico na minha. eles, na deles.
por isso me irrita esse tipo de ocasião em que todo mundo da roda como que disputa o assentimento dos colegas que ficam calados. parece-me irritante, tudo isso.
estou para cair fora de qualquer roda em que isso aconteça.

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