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poucas linhas sobre o impermanente

ler bauman, por aquilo de que ele é citado aqui e acolá, dá pintas de discutir heráclito.
tudo é fluido.
mas ele diz isso.
diz que tudo é fluido.
isso que ele diz é fluido?
não parece.
é como se ao dizer que tudo é fluido ele solidificasse o fluido. como se o tornasse definido.
pergunto-me se hoje, no século XXI, precisamos disso. de dizer que algo é alguma coisa.
que algo é fluido. ou que algo é algo que não seja fluido. ou que possa vir a ser.
por que, no século XXI, seria diferente de tempos atrás?
porque, pelo que sabemos, os saberes se multiplicam mais do que exponencialmente.
porque as realidades parecem açambarcar efeitos os mais diversos, entre países, entre continentes, entre populações que - ao menos teoricamente - podem permanecer conectadas a milhares de quilômetros de distância.
porque tudo parece fluido demais para permanecer, seja de qual forma for. a não ser que permaneça fluido.
critico bauman sem lê-lo.
é que me dá uma agonia insuportável.
pois parece, com suas palavras, não preencher nada em mim, nada que possa vir a ser representativo de alguma coisa. porque parece me enganar - se é que engana.
mas e beckett?
leio adorno, que distancia sua literatura, seu sentido sem sentido, do existencialismo marcante de principalmente a segunda metade do século dos grandes massacres, o XX.
pode-se, como se faz comumente, colocá-lo lado a lado com influências aparentemente fora de qualquer suspeita, como Joyce e Eliot. o primeiro, seu mestre. o segundo, sei lá.

Comentários

Unknown disse…
Ele não diz, assim, "tudo é fluido".
Ele descreve a "era da conectividade" e o que esse "mundo prático" transforma nas pessoas.

Criticar sem ler é um problema. Estou tentando mudar.

Mas agora sim...
Beckett sobre o existencialismo no tempo.
Contrera disse…
A fluidez leva a suas conclusões.
Estou lendo. Ocorre que os dias estão fluidos demais.
sim, beckett...

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