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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

esperando godot, em beckett, por cláudia vasconcellos

o que é um mendigo? um ser que já foi criança - embora existam crianças mendigas (e chaplin está aí para eternizá-las). um ser que já foi alguém - quando realmente é fruto de uma queda. um ser à margem, que não se relaciona com a sociedade existente. vladimir e estragon são dois mendigos num mundo isolado transformado em palco à espera de alguém - que virá de onde, afinal, se desse lugar eles não podem sair? de onde vem o menino. que se não viesse deixaria godot numa espécie de limbo transcendental. godot existe, é isso o que ele diz. e manda recados. o país da merda em que vlad e gogo estão encerra uma eternidade candente. uma eternidade subjacente ao contraste formal entre diversas condições de existência. o país da merda é o país em que lhes cabe esperar (embora eles duvidem). por sua vez, não é o da torre eiffel, em que eles iriam pular de mãos dadas. e não é o país da fertilidade. é o país da suprema carência - sendo que o tempo todo nem vlad nem gogo sentem fome. é o país do...

Stanislavski - A Construção da Personagem (continuação)

os capítulos seguintes de a construção do personagem, de stanislavski, são memoráreis. o capitulo 3, personagens e tipos, acaba discorrendo por essa faceta necessária por trás de quem assume as características externas E INTERNAS do personagem. lembro-me em especial do momento em que o narrador ouve detalhes perspicazes por tórtsov - o alterego de sta - quanto a imitar um velho. quanto a entender que o velho o é por fora, sim, mas também por dentro, ou seja, que suas incapacidades se devem a detalhes internos - desgastes dos ossos, por exemplo - que o ator precisa sacar e refletir como reproduzir. como reproduzir os limites de movimento de um velho, afinal? sta termina: é difícil descobrir e capacitar-se de quais são as circunstâncias dadas da velhice. mas uma vez achadas, não é difícil retê-las por meio da técnica. digo eu: é quando a técnica parece dizer tudo - ou quase. já o capítulo 4, tornar expressivo o corpo, marca por explicar em que medida certos exercícios ou mesmo curso...

ovelhas

hoje tem peça. segunda semana. ovelhas que voam se perdem no céu, de daniel pellizzari, convida a que nos vejamos mais de perto ou mais de longe, a que nos encaremos, a que nos digladiemos face nós mesmos para quem sabe com isso melhor aceitarmos. o quê? quem seriam as ovelhas? o rebanho ao dispor de pastores? nós, enquanto seres perdidos? sei apenas que meus papéis demandam um esforço hercúleo. digo, mais o primeiro. faço um maconheiro nas últimas. interessante eu me jogar na cadeira sem nenhuma intenção aparentemente a dar as caras. enquanto eu interrompo e saio do torpor - momentaneamente - para depois cair de novo. eu tenho muita dificuldade de decorar. algo explicado por. e são poucas falas. quantitativamente poucas. fato é que, enquanto não são ditas, as palavras a gravar me são tão expressivas quanto um parafuso. e quando o são - ditas -, tornam-se areia a modelar. normalmente a posteriori. pois muitas vezes dizemos que iremos fazer isto e SAI aquilo. recebi dicas...

ensaio 1

Não faltam referências para todos aqueles que querem provar que vivemos numa época confusa. São incontáveis os livros que narram o fim da arte - como ela aparecia até o século XIX, pelo menos. São inumeráveis os livros de sociologia que tentam açambarcar - e sempre admitem que não o conseguiram - a realidade político-social contemporânea. Os livros sobre política internacional, então, parecem inúteis. A literatura parece haver desistido de querer dizer alguma coisa. Somos invadidos o tempo todo por informes que parecem nos convencer da pretensa inutilidade do pensamento bem embasado numa sociedade liquefeita. Em seu "O vento e o moinho", o crítico de arte Rodrigo Naves aborda o fenômeno focando seu interesse na arte moderna e contemporânea. Diz ele que estamos vivendo numa "crise de inimigos", uma "dificuldade de as forças sociais se articularem tanto pela ausência de um opositor claro quanto pela incapacidade de ordenarem a si mesmas" (p. 15). Parece se...

Estatísticas - Fevereiro 2014

a matéria que saiu na folha esta quinta toca num tema abordado en passant por lehmann qual seja, o anacronismo combinado com a necessidade do teatro nos dias de hoje o teatro é anacrônico - não parece acompanhar a evolução dos mídia o teatro é necessário - busca experiências que os outros media não conseguem oferecer daí a pós-dramaticidade. ao que parece, é daí que ela surge, digamos, fenomenologicamente sua necessidade ocorre que no livro o sérgio carvalho já parte pela desqualificação e só é possível abordar o tema com mais calma sopesando os fatores sob tal ponto de vista, e concordando com cronin e outros (como janvier), beckett seria o último dos modernos em que o texto é o centro em que a cena se mantém, ao menos sob sua forma primeva mas em que o atomismo, o anti-individualismo, a distância ocorrem pela primeira (?) vez de forma sistemática - e portanto, assim sendo, em que retêm a atenção sai-se de beckett respirando algo que supera os séculos XIX e anteriores, mas...

poucas linhas sobre o impermanente

ler bauman, por aquilo de que ele é citado aqui e acolá, dá pintas de discutir heráclito. tudo é fluido. mas ele diz isso. diz que tudo é fluido. isso que ele diz é fluido? não parece. é como se ao dizer que tudo é fluido ele solidificasse o fluido. como se o tornasse definido. pergunto-me se hoje, no século XXI, precisamos disso. de dizer que algo é alguma coisa. que algo é fluido. ou que algo é algo que não seja fluido. ou que possa vir a ser. por que, no século XXI, seria diferente de tempos atrás? porque, pelo que sabemos, os saberes se multiplicam mais do que exponencialmente. porque as realidades parecem açambarcar efeitos os mais diversos, entre países, entre continentes, entre populações que - ao menos teoricamente - podem permanecer conectadas a milhares de quilômetros de distância. porque tudo parece fluido demais para permanecer, seja de qual forma for. a não ser que permaneça fluido. critico bauman sem lê-lo. é que me dá uma agonia insuportável. pois parece, ...
tudo começou com um aquecimento. aquecimento que cada um fez de sua forma toda particular. houve quem privilegiasse movimentos suaves, muito provavelmente apreendidos em continentes outros como o asiático. outro forçava as mãos como se viesse a desenvolver socos, o que não era de forma alguma previsto. houve quem preferisse alonga-se como se viesse a desenvolver uma atividade aeróbica qualquer. já outro, mais desenvolto, alongou-se desde já prevendo a chegada do personagem a si mesmo. um alongamento comum irmanou esses que possuem fenotipos diferenciados, adaptados - na cabeça do diretor por enquanto - aos personagens que irão vir a desenvolver. a proposta passou a ser então a defesa do seu personagem em especial apenas fisicamente, sem a emissão de sons ou coisa que o valha. o atomismo do comportamento de cada um, centrado acima de tudo em si mas descentrado a si mesmo - como exigido do papel, seguindo as orientaçõesdo diretor -, desde já prenunciava a ausência de relação ínt...
uma amiga está bolando uma performance com vídeo de meu texto fugindo. ela deve aprontá-la nos próximos meses. é legal sentir que nosso trabalho avança por mãos alheias. sempre isso é muito bom. não precisar ir lá na frente, na infantaria. deixar-nos ficar descansando nas trincheiras. mas para isso alguém precisa acreditar em nós. alguém.

esperando

esta sexta-feira iremos nos reunir no final de noite e repassar um pouco o texto de clavículas. mas como haverá mais duas peças lá no teatro e muita gente legal, estou pensando em varar a noite. problema é não ter o esperando godot aqui comigo, dado que ainda não confirmei não poder ir à reunião do grupo do césar. mas a situação atual fez com que me lembrasse de situações por que passei recentemente. a questão é a seguinte. quando vc vara a noite, precisa abandonar o bar lá pelas primeiras horas da manhã - refiro-me não à madrugada. isso faz com que, meio sonado, você tenha de enfrentar as ruas. normalmente, eu faço o seguinte: ando um pouco, pego os ônibus respectivos e chego em casa com a manhã já em todo seu esplendor. para dormir. mas um sentimento anterior me invade. que é: quando saímos do bar, e a manhã nos invade, as horas parecem incontáveis. digo, é como se as horas até as 12h, que é quando normalmente almoço, fossem milhares. como se houvesse todo um mundo pela fr...

feminilidades

a última mente e cérebro, da scientific american, que em geral compro mas não tenho tempo de ler, tem capa para a psicologia feminina. não li a matéria nem conseguirei fazê-lo muito cedo. mas desde já faço algumas considerações. vocês devem saber que montei um grupo de teatro. feminino. exclusivamente feminino. as coisas aconteceram. fiz uma apresentação num sarau, convidei uma amiga, que foi e pronto, primeira apresentação feita. a segunda foi para seis atrizes e me surpreendeu demais. ela me puxavam para mais e mais ensaios. elas adoraram, pelo visto. daí a até criar o grupo foi um passo. estou escrevendo cenas curtas e de dois a dois com elas para construir uma peça maior. chamada a família. elas estão gostando bastante das cenas e estão ensaiando quando podem. há muito tempo eu não me sentia tão leve ao sentir que faço algo de certo, de adequado. mas a dúvida surgiu: chamo atores? chamei para que ficassem de sobreaviso. mas não quero incluí-los no grupo, nem vou. por que es...

Álbum de Família (August: Osage County), de Tracy Letts, dirigido por John Wells

Fiquei sabendo que a Meryl Streep arrasa neste filme, e esse foi um dos motivos para me interessar por ele. Outro foi reparar que ele trata de problemas familiares, e hoje me sinto mais à vontade com isso. Outro foi notar que o grupo de teatro que eu lidero necessariamente irá precisar de novas cenas, e que ver filmes bons atrai boas influências. Meryl Streep é a matriarca de uma família cujo patriarca sumiu e que depois é encontrado morto. As filhas e seus cônjuges aparecem todos de uma vez nessa casa que prima pelo calor e que descansa, solitária, numa imensidão de nada. A personagem de Streep se entope de medicamentos e tudo começa com o patriarca contratando uma enfermeira de origem indígena para a mulher, que irá logo ser operada de câncer na boca. Por um momento, acho que tudo irá rondar a operação. Mas não podia ser isso. O enterro e o almoço que se seguem são o palco para uma lavagem de roupa suja que termina em violência e que não dá espaço para nada além da tragédia de...

A construção do personagem, por Stanislavski

Tenho os três livros do russo aqui comigo. Leio-os simultaneamente. A quem não sabe, digo que estou atuando em peças do Cemitério de Automóveis, convidado pelo Marião. E faço outras coisas. O jeito pelo qual o russo escreve nestes livros, traduzidos da tradução em inglês, é interessante. Nada como receituário ou método - como o Strassberg definiu seu sistema. Stanislavski prefere contar ensaios e apresentações fictícias, baseadas em fatos reais, sob o olhar de um dos atores, esmiuçando questões que envolvem o ofício de atuar. Vez ou outra, enquanto leio, reparo como ele soube transpor para fora dilemas que atingem em cheio o ator. Reparo nisso com muito prazer, pois esses dilemas realmente acontecem. Por menor que seja o envolvimento, eles realmente acontecem. Mas há certa irregularidade no conteúdo expresso. Às vezes, os toques derivam das dificuldades da atuação. Outras, de simples sensações auferidas de se sentir atuando. Em cada caso, há o que se acrescentar, mas muitas vezes ...

mas eu caio fora

de 1985 a 2007, mais ou menos, eu tive aulas e mais aulas. sempre de alto nível. em que era motivado a me envolver. em que lia o que era mais atual para tentar entender a conjuntura e a estrutura. ouvi muito. li bastante. discuti também o suficiente. não tenho mais saco. eu sei que numa conversa sempre há como que um movimento rumo ao centrípeto, à concordância. como que um movimento rumo ao consenso. mas há alguns anos reparei como isso muitas vezes é chato. principalmente quando aquele que se dispõe a liderar a discussão possui uma convicção férrea que não dá espaço para mais nada. sinto nessas ocasiões que minha opinião E EU MESMO somos colocados numa caixinha tal que expressa a situação de que não valemos virtualmente nada. é diferente de papos de bar. em papos de bar, os assuntos vão e vêm, as posições são elencadas em voz alta, sem muitos traquejos retóricos, e quem concorda, tudo bem, e quem discorda, tudo bem também. em algumas rodas de bar. mas sempre tem aqueles qu...

linha fina

eu sempre sinto-me andando numa linha fina. como se fosse escorregar e ao cair a lâmina me partisse praticamente ao meio. pernas e saco de um lado, pernas e pau do outro. um traste. quem sabe por isso eu fique calado a maior parte do tempo. ou quem sabe por isso eu prefira ficar atento ao tempo, enquanto ele passa e eu o perco. a única exceção são as risadas que tiramos sempre que falamos bobagens . é nesses momentos que, porra, o tempo não é nada. tudo torna-se permanente por ser insignificantemente expressivo da nulidade do sentido de tudo. mas é raro. minha mente fica zanzando em meio a referências que me enchem o saco mas que me consomem a atenção - e algo me diz (erradamente) que tenho ALGO A FAZER. uma bosta. por outro lado, as leituras que há décadas - sim, há décadas, caralho, como o tempo passa, imutável - me inculcavam preocupações e deveres insistem em capturar minha atenção. o mundo sério. esse, de gente que decide. que porra é essa? mas o tempo passa e enquanto isso v...

teatro, hill e diversão

comecei no teatro pelas vias do gerald thomas, que em 2006 me permitiu acompanhar ensaios na coxia do sesc vila mariana e do viga, lá no sumaré. comecei também pela via do beckett, não do teatro da vertigem nem realismos que grassam por aí. mas hoje o panorama é outro. bebo de realismo todo santo dia e a linguagem dos quadrinhos invade cada vez mais meu imaginário. estou para fazer uma peça curta no teatro cemitério e a influência dos quadrinhos é patente, pelo que pude perceber ontem nos ensaios das três novas peças a serem apresentadas naquele teatro. houve também algo mais. hoje noto a força que interpretar para fora, não só para dentro, e por isso começo a sentir um certo arrepio dessas peças que buscam introjetar cada vez mais os conflitos. ocorre que, embora eu ainda não tenha me tornado independente de tantas influências, principio a tentar encontrar o tom certo para tudo que se me apresenta. esse tom não é para dentro. nem para fora, necessariamente. é um tom que me con...

Beckett e Godot

Desta vez não tem como fugir. Dispus-me a assistir e  contribuir , como eu considerar possível, com uma nova  encenação  de Godot, pela companhia de um amigo. Passaremos a conversar, todos os envolvidos, a  partir  deste  fim de semana . Peguei minha  tradução  de Godot e estou relendo-a. Tendo a me emocionar só ao perceber a lide que me disponho a percorrer. E a  embarcar  em todas as outras leituras - de biografias, críticas, etc. - que ladeiam o caminho que se abre à nossa frente. Beckett  convenceu-me de que não era nem sou louco.  Que a vida  podia ser ainda mais complexa. Que isso poderia ser por sê-lo, simplesmente, e que não precisamos decifrar nada que nos invade. Mas aceitando-o, percorrer melhor nossos próprios caminhos. São muitos os  caminhos  que se abrem - e muitos outros que se fecham. Viver é isso.

Currículo

Curriculum Vitae Rodrigo Humberto León Contrera • Natural do Chile, 46 anos, brasileiro (1992), separado, sem filhos. • Endereço: Rua Maria Abadia dos Santos, 107, Bloco 1, apto. 13, CEP 06764-030 . Taboão da Serra, SP. Fones: 55 11 5011-1786 e 3871-4241 (fax). Celular: 55 11 9 9132-5225. Mails: rodrigo_contrera2@hotmail.com e rodrigocontrera@ig.com.br . Skype: rodrigo.contrera1 . Redes Sociais: LinkedIn: http://br.linkedin.com/pub/rodrigo-contrera/16/610/a01/ Twitter: @rcontrera . Youtube: ContreraBrasil . Tumblr: rcontrera . Reedit: contrera . Facebook: rodrigo.h.contrera e Contrera Personagem . Instagram: rodrigocontrera2 . Foursquare: rodrigo_contrera2@hotmail.com .                                                  ...