Fui apresentado à diretora desta que é uma peça desde já muito importante em minha lide de encontrar influências definitivas para minha própria trajetória e lhe disse mais duas vezes como ela, a peça, foi importante para mim.
Mas, por algum motivo que não sei bem qual é, parece que ela, Michelle Ferreira, achou que eu estava novamente apenas elogiando. Bom, tentarei aqui falar algo sobre o que apreendi e aprendi.
Já falei sobre a peça, então agora falo sobre algo mais que está na peça mas que não se restringe a ela.
Tudo bem, temos o realismo. Realismos de várias estirpes lotam os pequenos e grandes palcos paulistanos. Realismos bem feitos mas meio chatos, realismos meio estranhos, referenciais à vida suburbana vigente entre nós, realismos meio capengas mais para naturalismos. Temos trabalhos de grupo que recorrem a realismos ou não. Temos também aviões de carreira como "A Dama do Mar" que nada têm de realismo. No caso, esta última me abre os olhos. Admito.
Mas, tirando toda a estrutura requerida à limpeza de cena e potência dessa última obra de Robert Wilson entre nós, não vejo como possa - eu - avançar neste panorama paulistano sem passar por um certo realismo. Claro, poderia também vislumbrar caminhos expressionistas - que alguns verão diluídos em Wilson -, mas, por estar em grupo diletante e também no elenco de uma peça de amigo dirigida por outro amigo, não consigo avançar sem cavoucar na via aberta pelos russos, Stanislavski à frente, Strasberg, Adler e outros já em ambiente norte-americano.
Ocorre-me porém algo estranho. Tendo a facilmente me entediar e irritar com quase qualquer realismo que vejo por aí. Não importa se ele é bem feito, em suma. Eu me canso logo. Preciso de outros recursos, outras vias que me chamem mais a atenção. Reparo então que sempre que aparece um personagem improvável, alguém que parece vindo de outro planeta, meus olhos se abrem, à espera de um chamado mais atraente. Às vezes isso acontece, outras, não. No caso de Mulheres, a peça do velho Buk adaptada pelo Marião, dirigida pela Fernanda D'Umbra e com elenco que já comentei n vezes por aqui, um momento em que vejo esse desfraldar do improvável, na verdade vários momentos, é quando a Samya Enes interpreta a Tammy. Esta, no caso, foi uma garota extremamente importante para o Buk, tendo tido poemas declamados em público em sua presença enquanto ela se embebedava ou caía para algum rumo qualquer na trajetória dos dois. Falando com a Samya, fiquei sabendo por ela que o próprio Buk dedicou um livro inteiro a ela, chamado Scarlett (não sei se com dois "t"s). Eu confesso: cheguei a quase sonhar com certos momentos em que a Tammy/Samya gritava, alterada e completamente transtornada parecia um ser de outro mundo ou outros mundos.
Neste caso, da peça da Michelle Ferreira (a peça tem outra Michelle), fui percebendo bem tarde, bem depois de assistir a peça - da qual tinha uma ou outra indicação de amigos, o (aparente) significado do registro exacerbado dos personagens na primeira metade da peça, e o significado de esse registro vir acompanhado do registro realista da segunda parte da peça. No caso, pelo que pude entender, o dito "menino que ficou trancado no quarto" do programa, menino que não aparece mas que é magistralmente tratado com apenas dois tênis lá no fundo do palco, vê as "tias", no caso, a vizinha, a irmã da vizinha e a própria mãe com esse registro estratosfericamente sujo, as "tias" como simulacros de pessoas, mas como simulacros que dizem mais das pessoas do que no registro realista da segunda parte da peça. Claro, a peça é explicada ao fim, com o sofá virado de costas para a plateia, mas o que mais me causou comoção foi ver a forma pela qual as atrizes, todas, trataram as falas, as personalidades, as fraquezas e estupidificações de suas respectivas personagens. Esse registro manteve meu olhar hipnotizado por aquilo que via, a tal ponto que eu nem sabia se estava fora ou dentro do palco. As duas vezes que vi a peça apenas confirmaram aquilo que eu já notara: que havia aí algo que se aproximava ou talvez até ultrapassava, por não estar enquadrado por algo maior, aquilo que eu já havia visto em outras peças, dentre elas "Mulheres", do Buk. É curioso, aqui, notar que algo há de similar entre o tratamento adotado pela Bete Coelho, especialmente por ela, na peça do Bob Wilson, que também vi duas vezes. Algo que tem um quê de maquinal, sobre o que eu poderia escrever tratados aqui, mas não quero. Simplesmente foi o que me atraiu e ainda atrai e influenciou a tal ponto de conseguir fechar as pontas de algo que estava apenas entreaberto. Claro, como me disseram, tudo isso sobre o que falei pode ser classificado como algo retirado da linguagem dos quadrinhos. Claro, tudo bem, mas e daí. Não quero colocar o que vejo em quadradinhos. Não me importo em entender. Quero mais é sentir.
Parece que a peça estará em outro lugar a partir de agora. Muito bem. Talvez vá lá eu vê-la de novo. Para curtir como a criança que ainda sou.
Mas, por algum motivo que não sei bem qual é, parece que ela, Michelle Ferreira, achou que eu estava novamente apenas elogiando. Bom, tentarei aqui falar algo sobre o que apreendi e aprendi.
Já falei sobre a peça, então agora falo sobre algo mais que está na peça mas que não se restringe a ela.
Tudo bem, temos o realismo. Realismos de várias estirpes lotam os pequenos e grandes palcos paulistanos. Realismos bem feitos mas meio chatos, realismos meio estranhos, referenciais à vida suburbana vigente entre nós, realismos meio capengas mais para naturalismos. Temos trabalhos de grupo que recorrem a realismos ou não. Temos também aviões de carreira como "A Dama do Mar" que nada têm de realismo. No caso, esta última me abre os olhos. Admito.
Mas, tirando toda a estrutura requerida à limpeza de cena e potência dessa última obra de Robert Wilson entre nós, não vejo como possa - eu - avançar neste panorama paulistano sem passar por um certo realismo. Claro, poderia também vislumbrar caminhos expressionistas - que alguns verão diluídos em Wilson -, mas, por estar em grupo diletante e também no elenco de uma peça de amigo dirigida por outro amigo, não consigo avançar sem cavoucar na via aberta pelos russos, Stanislavski à frente, Strasberg, Adler e outros já em ambiente norte-americano.
Ocorre-me porém algo estranho. Tendo a facilmente me entediar e irritar com quase qualquer realismo que vejo por aí. Não importa se ele é bem feito, em suma. Eu me canso logo. Preciso de outros recursos, outras vias que me chamem mais a atenção. Reparo então que sempre que aparece um personagem improvável, alguém que parece vindo de outro planeta, meus olhos se abrem, à espera de um chamado mais atraente. Às vezes isso acontece, outras, não. No caso de Mulheres, a peça do velho Buk adaptada pelo Marião, dirigida pela Fernanda D'Umbra e com elenco que já comentei n vezes por aqui, um momento em que vejo esse desfraldar do improvável, na verdade vários momentos, é quando a Samya Enes interpreta a Tammy. Esta, no caso, foi uma garota extremamente importante para o Buk, tendo tido poemas declamados em público em sua presença enquanto ela se embebedava ou caía para algum rumo qualquer na trajetória dos dois. Falando com a Samya, fiquei sabendo por ela que o próprio Buk dedicou um livro inteiro a ela, chamado Scarlett (não sei se com dois "t"s). Eu confesso: cheguei a quase sonhar com certos momentos em que a Tammy/Samya gritava, alterada e completamente transtornada parecia um ser de outro mundo ou outros mundos.
Neste caso, da peça da Michelle Ferreira (a peça tem outra Michelle), fui percebendo bem tarde, bem depois de assistir a peça - da qual tinha uma ou outra indicação de amigos, o (aparente) significado do registro exacerbado dos personagens na primeira metade da peça, e o significado de esse registro vir acompanhado do registro realista da segunda parte da peça. No caso, pelo que pude entender, o dito "menino que ficou trancado no quarto" do programa, menino que não aparece mas que é magistralmente tratado com apenas dois tênis lá no fundo do palco, vê as "tias", no caso, a vizinha, a irmã da vizinha e a própria mãe com esse registro estratosfericamente sujo, as "tias" como simulacros de pessoas, mas como simulacros que dizem mais das pessoas do que no registro realista da segunda parte da peça. Claro, a peça é explicada ao fim, com o sofá virado de costas para a plateia, mas o que mais me causou comoção foi ver a forma pela qual as atrizes, todas, trataram as falas, as personalidades, as fraquezas e estupidificações de suas respectivas personagens. Esse registro manteve meu olhar hipnotizado por aquilo que via, a tal ponto que eu nem sabia se estava fora ou dentro do palco. As duas vezes que vi a peça apenas confirmaram aquilo que eu já notara: que havia aí algo que se aproximava ou talvez até ultrapassava, por não estar enquadrado por algo maior, aquilo que eu já havia visto em outras peças, dentre elas "Mulheres", do Buk. É curioso, aqui, notar que algo há de similar entre o tratamento adotado pela Bete Coelho, especialmente por ela, na peça do Bob Wilson, que também vi duas vezes. Algo que tem um quê de maquinal, sobre o que eu poderia escrever tratados aqui, mas não quero. Simplesmente foi o que me atraiu e ainda atrai e influenciou a tal ponto de conseguir fechar as pontas de algo que estava apenas entreaberto. Claro, como me disseram, tudo isso sobre o que falei pode ser classificado como algo retirado da linguagem dos quadrinhos. Claro, tudo bem, mas e daí. Não quero colocar o que vejo em quadradinhos. Não me importo em entender. Quero mais é sentir.
Parece que a peça estará em outro lugar a partir de agora. Muito bem. Talvez vá lá eu vê-la de novo. Para curtir como a criança que ainda sou.
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