Há certos trabalhos que vemos por aí que podem ser muito justamente chamados de trabalhos de guerrilha. Trabalhos conduzidos de forma extremamente profissional e cuidada mas que por razões várias não são devidamente divulgados nem devidamente tratados por quem importa. Este trabalho é um deles.
Peça que se origina - pelo que o Nelsinho me disse - de oito livros/textos de Cornélio Pires, autor regionalista morto em 1958 cuja obra está toda de posse de uma editora que, sei lá por que cargas d'água, não publica nada do autor há muitos anos, "Querência" (título que é dito en passant pelo protagonista) trataria, se fosse um texto único das memórias de alguém "da terra". Trataria porque, como as próprias condições que deram origem ao texto final da peça demonstram, não é "apenas" de memórias que aqui se trata. Claro, há um personagem jovem que consulta o avô, que consulta suas memórias, que consulta histórias do passado, que consultam o presente do moço. Claro, há como que uma história a guiar todo o texto. Mas também não há. E também não importa.
Conduzida com o violão ao vivo do sempre excelso Fábio Brum, Nelsinho incorpora todos os personagens um após o outro, apetrechado de mero casaco, mero poncho, mera corda, meras facas, enquanto deixa o tom da trama tomar conta do ambiente, que fica como que repleto de cenas que, sem existirem, passam a povoar a mente de quem se deixa levar pelo ar que tudo diz e que tudo sabe. Confesso: da primeira vez que vi a peça, pouco entendi. Mas, como não sou bobo, bem sei que quando pouco entendo é porque muito preciso ver tudo isso de novo. E foi o que fiz. E foi mais do que conveniente. Pois realmente consegui ver o que se passava à minha frente, ver paisagens inóspitas embora passadas ainda neste Estado, em cidades algumas das quais eu próprio já visitei, com gente com a qual eu mesmo já trombei na rua ou na estrada.
Acompanho o trabalho do Nelsinho há alguns meses, desde que deixei-me atrair pelo pessoal do Teatro Cemitério. Por isso digo que já sou uma pessoa suspeita. Mas o fato é que não me canso de me agradar pela atuação desse guerrilheiro sempre tão cordial, sempre tão à vontade, mas sempre tão rigoroso. Longe de ele limitar-se a personagens suburbanos, o Nelsinho soube dar vez e voz a todo esse mundo que, quando bem divulgado, consegue unir as pontas e trazer lágrimas a quem, ao ver o que vê em sua frente, lembra de lembranças há muito esquecidas. No sabor da palavra, do amor, do andor, do ardor.
Peça que se origina - pelo que o Nelsinho me disse - de oito livros/textos de Cornélio Pires, autor regionalista morto em 1958 cuja obra está toda de posse de uma editora que, sei lá por que cargas d'água, não publica nada do autor há muitos anos, "Querência" (título que é dito en passant pelo protagonista) trataria, se fosse um texto único das memórias de alguém "da terra". Trataria porque, como as próprias condições que deram origem ao texto final da peça demonstram, não é "apenas" de memórias que aqui se trata. Claro, há um personagem jovem que consulta o avô, que consulta suas memórias, que consulta histórias do passado, que consultam o presente do moço. Claro, há como que uma história a guiar todo o texto. Mas também não há. E também não importa.
Conduzida com o violão ao vivo do sempre excelso Fábio Brum, Nelsinho incorpora todos os personagens um após o outro, apetrechado de mero casaco, mero poncho, mera corda, meras facas, enquanto deixa o tom da trama tomar conta do ambiente, que fica como que repleto de cenas que, sem existirem, passam a povoar a mente de quem se deixa levar pelo ar que tudo diz e que tudo sabe. Confesso: da primeira vez que vi a peça, pouco entendi. Mas, como não sou bobo, bem sei que quando pouco entendo é porque muito preciso ver tudo isso de novo. E foi o que fiz. E foi mais do que conveniente. Pois realmente consegui ver o que se passava à minha frente, ver paisagens inóspitas embora passadas ainda neste Estado, em cidades algumas das quais eu próprio já visitei, com gente com a qual eu mesmo já trombei na rua ou na estrada.
Acompanho o trabalho do Nelsinho há alguns meses, desde que deixei-me atrair pelo pessoal do Teatro Cemitério. Por isso digo que já sou uma pessoa suspeita. Mas o fato é que não me canso de me agradar pela atuação desse guerrilheiro sempre tão cordial, sempre tão à vontade, mas sempre tão rigoroso. Longe de ele limitar-se a personagens suburbanos, o Nelsinho soube dar vez e voz a todo esse mundo que, quando bem divulgado, consegue unir as pontas e trazer lágrimas a quem, ao ver o que vê em sua frente, lembra de lembranças há muito esquecidas. No sabor da palavra, do amor, do andor, do ardor.
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