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Um convite e uma delicadeza

Fui convidado ontem para interpretar um personagem numa peça de quem (até então) eu não sabia quem.
Não vou dizer quem convidou nem de quem é a autoria da peça, digo apenas que o autor é superlegal e que o diretor (que foi quem me convidou) o fez num gesto de delicadeza que me deixou comovido.
Disse ele que quando estava lendo a peça com a companhia ele pensou e disse que pensou na hora em mim para o papel. Disse que houve uma discussão, mas que ele insistiu, disse que o papel não seria subdividido e que o papel era meu - se eu o quisesse. Disse que a cena é algo do tipo woody allen e que tem certeza que irei arrebentar. Achei tão bonito, isso. O que me comoveu na verdade foi o tom em que tudo foi dito. Um tom de suavidade, de companheirismo, de amizade. Hoje sei o que é isso.
Bom, agora - quarta - eu publico, mas segunda - anteontem - eu participei da leitura da peça. Ou seja, sei de bem mais do que isto. Mas eu, que escrevo domingo - antes da leitura, páro por aqui.
Continuarei depois contando como vem se dando minha estréia profissional no teatro.

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