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mundos, novos mundos e brechas por aí

a oficina que fiz de figurino com a dani(elle cabral) deu-me acesso a uma série de peças que não conseguiria achar nas livrarias. caí de boca. muitas da sarah kane, uma do sérgio blanco, várias do bortolotto, etc. e tal. esbaldei-me. não consegui criar um figurino à altura de o amor de fedra, dado meu desconhecimento e limitações, mas estou na área. as peças estão numa estante, como originais - tenho várias outras. espero ainda uma peça do marião.


ontem peguei na net uma peça da adélia nicolete, rubros, a partir de indicação da rebeca, e quase terminei a sua leitura. deu-me uma impressão similar à das peças do marião, como se houvesse um universo à minha espreita, e abriu-me algumas comportas. senti impressões fortes. hoje termino a leitura. apesar do realismo ou naturalismo reinantes, algo que me irrita um pouco, percebo como meus horizontes se ampliam cada vez mais.

realmente incrível como as leituras ampliam minha experiência no mundo. é como se entrasse em universos outros, como se pudesse compartilhar da trajetória de outros seres e em outros universos - claro que o que digo é diferente do que o alvim diz. não que eu pense o tempo todo nisso, quero mais é viver mais e melhor o meu próprio universo, mas mesmo assim é incrível. para uma pessoa travada de tantas formas como eu, é uma trajetória de sincera libertação e liberação.

mas esse negócio de travas está mudando. noto isso na própria oficina. mas também na realidade. a bem da verdade, sinto que, a depender das exigências de me liberar, me fecho mais mas ao mesmo tempo me libero. é um processo dialético, em suma.

peças que se propõem distintas, como as do noir, puxam-me em duas diferentes direções. por um lado, à introjeção intelectual ainda maior e por outro a uma entrega emocional com base naquilo que sai dessa introjeção. é por isso que eu considero pessoalmente tão interessante o que eles fazem. é como se abrisse uma comporta NO MUNDO a algo AINDA a ser expresso - e que apesar de todos os esforços permanece ainda escondido. é minha libertação.

os outros méritos, mais interessantes para quem se propõe abordar o teatro enquanto crítica, eu rascunho de outra forma. e mesmo sendo tão importantes quanto eu os deixo em outro plano.

já as peças do tipo das do marião passam-se de outra forma. é como se nelas eu caísse de vez na vida, e escapasse do intelectual. não que não haja o que apreender, e há, mas a energia é outra. é uma energia mais coletiva, menos ensimesmada. algo mais agradável que a viagem solitária em direção a si mesmo. estamos nelas sempre acompanhados, por mais solidão que possamos sentir.

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