Pular para o conteúdo principal

Para quê tanta plateia

Esta terça (hoje), ocorrerá mais uma apresentação de cenas das chamadas Garotas do Contrera (como o Marião as apelidou). O grupo foi montado por mim com amigas para apresentação de cenas de teatro num sarau, o chamado Sarau da Terça, da amiga Ivone FS. Até agora, houve apresentações em dezembro, janeiro e março. A primeira foi comigo e a Gabriella Spaciari, a segunda, com seis atrizes, e a terceira com duas duplas. Desta vez, haverá uma dupla, eu apresentarei um texto e cantarei em seguida Ray Charles.
Seria inviável eu lhes dizer tudo o que tenho aprendido com a experiência. Mas lhes digo algo que aconteceu nas últimas apresentações (das duas duplas).
Desde o começo do grupo, eu foquei o trabalho em cenas. A gente não conversa muito antes. Não é minha pretensão ensinar nada - como se pudesse. Eu simplesmente faço cenas para as duplas, peço a opinião delas - se gostaram, em seguida fazemos as leituras - eu diria que, aqui comigo, inaugurei a prática, na medida em que antes eu nunca tinha passado por algo similar, repetimos, repetimos, eu dou algumas indicações para facilitar na construção dos personagens e da cena, e por aí vamos. Elas ensaiam geralmente bastante.
Da última vez, a Val e a Rebeca e a Rebeca e a Cristina apresentaram as cenas. Quando cheguei, elas estavam numa mesa, repassando o texto. Não quis assistir. Elas ficavam repetindo e repetindo as deixas, tentando dar corpo à cena. Havia a irmã da Rebeca, e com o tempo chegaram a Val e a Carola - que assistiu.
O detalhe que eu gostaria de ressaltar é que o lugar não lotou. Apareceram poucas pessoas. Mas EM MOMENTO ALGUM eu senti que elas se deixaram abater ou mesmo sequer influenciar com isso. Elas estavam tão dentro da cena, tão imersas no afã de fazerem o que se propuseram a fazer, que não havia ESPAÇO para preocupação com os outros, com a plateia.
Isso me agradou demais. Muito mesmo. Pois - apesar de não concordar em gênero, número e grau com quem despreza a ideia de público - na arte do teatro a plateia não deveria mesmo importar. Como para mim não importa se há vinte, cinquenta, centenas ou mesmo poucos gatos pingados a assistirem as peças de que participo. Eu nunca me deixo influenciar por isso. E não imaginam o quão livre me sinto com isso.
Essa lição elas já sabem bem. Uma preocupação a menos. Uma direção a mais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c