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umas poucas linhas sobre esse negócio de crítica

agora que deu um tempo, aproveito para redigir umas poucas linhas sobre esse negócio de crítica.
há muito eu reflito sobre o que é uma crítica.
eu achava que era uma espécie de julgamento avalizado, um avalista, de um espetáculo, por exemplo.
mas hoje sou de outra opinião. derivo esta mudança da reflexão daquilo que faz um crítico de artes plásticas. este não avaliza, pelo que sei. este localiza, cria ligações, cria ilações, contextualiza, ou seja, amplia as percepções relativas à obra que vê em relação ao seu tempo.
pois então, eu concordo COM ISSO. ou seja, um crítico de teatro é, para mim, não um avalista, um juiz severo quanto a se uma peça é ou não é boa e coisa e tal. não, um crítico é algo mais, precisa se muito mais, olha ou deve olhar bem mais longe.
digo tudo isto só para ressaltar que aquilo que aqui faço NÃO É CRÍTICA. eu não faço isso a que gostaria de me propor enquanto crítico (e para o que me considero por enquanto parcialmente incapaz). eu apenas COMENTO. tanto que praticamente tudo o que posto é algo subjetivo, algo que amplia, sim, o universo do que se vê mas na exata medida em que eu convivo com o universo daquele que cria.
não por isso eu não quero olhar longe. isso, eu quero. mas, aqui neste espaço, não enquanto crítico.
bom, mas do jeito que ando lendo e convivendo cedo ou tarde irei me propor agora sim a fazer críticas. para isso montei outro blog. dia destes dou o start. por enquanto, meto-me a ver repetidas vezes espetáculos que me fazem pensar e curtir para quem sabe um dia meter-me a dar as caras como crítico. mas vejam bem, não como avalista de nada. não considero que a função do crítico seja essa. mas para ampliar o repertório de percepções. para podermos curtir bem mais aquilo que vemos e que tanto nos dá prazer. qual seja, O TEATRO.

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