Pular para o conteúdo principal

umas poucas linhas sobre esse negócio de crítica

agora que deu um tempo, aproveito para redigir umas poucas linhas sobre esse negócio de crítica.
há muito eu reflito sobre o que é uma crítica.
eu achava que era uma espécie de julgamento avalizado, um avalista, de um espetáculo, por exemplo.
mas hoje sou de outra opinião. derivo esta mudança da reflexão daquilo que faz um crítico de artes plásticas. este não avaliza, pelo que sei. este localiza, cria ligações, cria ilações, contextualiza, ou seja, amplia as percepções relativas à obra que vê em relação ao seu tempo.
pois então, eu concordo COM ISSO. ou seja, um crítico de teatro é, para mim, não um avalista, um juiz severo quanto a se uma peça é ou não é boa e coisa e tal. não, um crítico é algo mais, precisa se muito mais, olha ou deve olhar bem mais longe.
digo tudo isto só para ressaltar que aquilo que aqui faço NÃO É CRÍTICA. eu não faço isso a que gostaria de me propor enquanto crítico (e para o que me considero por enquanto parcialmente incapaz). eu apenas COMENTO. tanto que praticamente tudo o que posto é algo subjetivo, algo que amplia, sim, o universo do que se vê mas na exata medida em que eu convivo com o universo daquele que cria.
não por isso eu não quero olhar longe. isso, eu quero. mas, aqui neste espaço, não enquanto crítico.
bom, mas do jeito que ando lendo e convivendo cedo ou tarde irei me propor agora sim a fazer críticas. para isso montei outro blog. dia destes dou o start. por enquanto, meto-me a ver repetidas vezes espetáculos que me fazem pensar e curtir para quem sabe um dia meter-me a dar as caras como crítico. mas vejam bem, não como avalista de nada. não considero que a função do crítico seja essa. mas para ampliar o repertório de percepções. para podermos curtir bem mais aquilo que vemos e que tanto nos dá prazer. qual seja, O TEATRO.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gargólios, de Gerald Thomas

Da primeira vez que assisti a Gargólios, do Gerald (Thomas), na estréia, achei que não havia entendido. Alguns problemas aconteceram durante o espetáculo (a jovem pendurada, sangrando, passou mal duas vezes, as legendas estavam fora de sincronia, etc.) e um clima estranho parecia haver tomado conta do elenco - ou pelo menos assim eu percebi. De resto, entrei mudo e saí calado. Mas eu já havia combinado assistir novamente o espetáculo, com a Franciny e a Lulu. Minha opinião era de que o Gerald, como de praxe, iria mexer no resultado. Por isso, a opinião ficaria para depois. À la Kant, suspendi meu juízo. Ontem assisti pela segunda vez ao espetáculo. E para minha surpresa muito pouco mudou. Então era isso mesmo. Lembro de que minha última imagem do palco foi ter visto o Gerald saindo orgulhoso. A Franciny disse meu nome a alguem da produção, pedindo para falar com o Gerald. Ele não iria atender, e não atendeu. Lembro-me agora de Terra em trânsito, a peça dele com a Fabi (Fabiana Guglielm...

4.48 Psicose (peça de Sarah Kane, tradução de Laerte Mello)

Há realmente algo de muito estranho e forte nesta última peça da Sarah Kane. E não é porque ela se matou em seguida, aos 28 anos. O assunto é claro desde o começo: uma depressão mortal. É como se fosse um testamento. Muitos lados da questão são expostos de forma esparsa - não sei se todos nem se isso afinal é possível -, e ao final da leitura a gente fica com um sabor amargo na boca. Dá vontade de reler, muito embora passe o desejo de decifrar. Isto torna-se secundário, aqui. Há algo que permanece, e creio que isso se deva à qualidade do que é feito e à integridade do que é dito. Pego por exemplo, já na primeira página: "corpo (...) contém uma verdade que ninguém nunca fala". É óbvio do que se trata: da extrapolação do fisiológico, de uma lógica de que por mais que se tente diagnosticar "nunca se fala". Abre-se uma porta à compreensão disso que não sabemos muito bem o que é. A força de "Lembre-se da luz e acredite na luz/ Um instante de claridade antes da ...

(Em) Branco (de Patricia Kamis, dir. Roberto Alvim, Club Noir, 3as a 5as durante o mês de agosto)

Fui à estreia da segunda peça da leva de oito novos selecionados que o Alvim vai encenar municiado de sua leitura na noite anterior. Esperava ver algo relativamente tradicional e nutria um certo receio de déja vu. A atriz e os dois atores permanecem estáticos em quadrados iluminados por baixo. O caráter estático não se refere apenas ao corpo em contraponto com o rosto, mas também a este, mutável apenas (e repentinamente) por expressões fugazes. Os olhares permanecem fixos. O texto segue a ordem 1, 2, 3 (segundo o Alvim, emissores mas não sujeitos), que eu imaginava que iria entediar. As falas são ora fugazes ora propositalmente lentas e sua relação tem muito a ver com o tempo assumido em um e outro momento. Não irei entrar no âmago da peça. Nem irei reproduzir o que a própria autora, o dramaturgo Luciano Mazza e o próprio Alvim disseram no debate posterior a ela. Direi apenas que durante ela nossa sensibilidade é jogada de um lado a outro num contínuo aparentemente sem fim sem c...