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sobre supostos plágios e batidas de carro

creio que foi ao ler chamada de capa na folha sobre suposto plágio cometido pelo felipe hirsch contra um autor norte-americano (acho) que fez com que eu batesse meu carro mais uma vez e precisasse levá-lo para consertar no mecânico que eu já conhecia. ou foi ao ver as fotos do alan garcía depositando a faixa presidencial de um lado e ollanta humala vestindo-a em outra foto. não sei.
mas, apesar de haver conhecido algo do drama peruano, ao visitar o país há alguns anos, foi a chamada da peça que seria plágio o que mais me perturbou.
sabemos todos que o gerald detesta o hirsch. diz que ele é uma cópia de si, e mal-feita (se não me engano, as palavras são essas), mas sempre é difícil distinguir nas posições do gerald o que é verdade do que parece ser tentativa de trazer os holofotes para nós. não que eu o culpe, imagino como devem ser avassaladoras as pressões dos críticos e de outro lado dos fãs de ocasião ou mesmo dos sinceros. o gerald não é o antunes que tem o sesc como lar, nem é o josé celso que tem o oficina andando pelas próprias pernas. o gerald comanda uma trupe de saltimbancos que sempre mudam e cujas peças também são mutantes. aqui comigo, prefiro assim.
mas voltando ao hirsch. leio os trechos da peça e da obra supostamente plagiada e fico pasmo. é praticamente ipsis litteris. não se aplica essa desculpa de que hoje a situação é outra, dadas as tecnologias e o suposto anacronismo da legislação sobre direitos autorais. fico pasmo. o que acontece? não quero culpar o hirsch. mas como aceitar?
cara, eu sei como é difícil criar. tem sido um parto fazer as pecinhas que fiz e ninguém viu. no mais das vezes sempre acabo aproveitando algo aqui, algo acolá, fazendo uma colagem e sustentando algo que no fundo nem sei o que é - mas que se torna alguma coisa. agora mesmo não paro de pensar nos atos dessa minha nova peça, mais ambiciosa, muito mais, e mesmo carregando um caderninho de anotações e repassando as dicas em arquivos que se tornam mais e mais volumosos a tarefa parece inglória. ainda mais porque ninguém que me rodeia sequer entende - ou mesmo se recusa a tentar entender - o que faço. pôxa, faço isso para quê, afinal? se não ganho nada, absolutamente nada, com isso... é por isso que tanto valorizo aquilo que se cria. pois é difícil. e só quem faz sabe o quanto. por isso NÃO ENTRA NA MINHA CABEÇA aquilo que li no jornal. simplesmente não entra. fico com pena da situação, afinal nessa briga quem perde é o teatro, sempre. e nossa imagem lá fora? continuamos sendo o paíseco de sempre?
mas fico por outro lado relativamente contente com as leituras que vejo sendo feitas neste espacinho. afinal, não tenho nada e mesmo assim há quem me visite. tenho só a mim mesmo, e mais tenho a mim mesmo RELATIVAMENTE AO TEATRO, e vejo que as pessoas me acessam por causa DELE, e não por mim. basta comparar os acessos deste blog com os do meu comentariosdocontrera. e vejam, de nada adianta colocar posts no twitter ou postar imagens nos posts do FB. o pessoal não entra, mesmo. já aqui, sempre vejo alguém. legal.
fechando ainda, fico também feliz em ver que o gui (guilherme gorski) aposta e acerta na premiada música para cortar os pulsos, agora em nova temporada. eu mesmo admito: não achei nos últimos dias nada que me atraísse à pecinha; mas está lá no estado, em chamada na capa do caderno 2 e em artigo simpático no pé de uma página. há até menção à paixão que o gui nutriu e nutre pelo texto. legal. sorte. merda.

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