Quando participava de ensaios para Esperando Godot, pelo Garagem 21 (César Ribeiro), fui defrontado pela primeira vez com o Método Suzuki. Não pude apreender muito dele, na ocasião, mas reparei como me machucava, física e psicologicamente, um determinado movimento de alongamento/aquecimento que consistia em alongar a coluna, no chão, com o alongamento respectivo dos braços à frente, mantendo uma das pernas cruzadas e forçando a região próxima às virilhas. Eu tive muita dificuldade nesse movimento em particular – tanto que o orientador achava que eu estava brincando ao não conseguir abaixar o meu tronco em relação ao chão.
Por outro lado, como é possível perceber no primeiro movimento que eu, digamos, “bolei” (Movimento Nascimento-Luta em
http://teatro.rcontrera.com.br/2015/08/movimento-nascimento-luta.html), nutro uma profunda reverência, desconhecimento e mitologia sobre movimentos que reduzem a presença corporal ao mínimo e que, no limite, referenciam-se ao nascimento do ser humano ou mesmo dos animais. Nesse sentido, considero que pode existir uma relação entre a súplica, o movimento de estiramento acima citado, e a contrição (que, como o nome bem diz, atribui uma carga religiosa ou mística a algo que é dado, qual seja, a ausência de resistência em se estar no mundo ou ao se preparar para entrar nele). Em questão de referências, a contrição me leva mais à yoga, mas lembro-me que no karatê existia esse tipo de postura de paz, de ausência de reação, de nada – como diz o Bruce Lee, ou o Musashi, no Livro dos Cinco Anéis –, e que tudo isso, todas essas referências podem ter, e devem ter, realmente algo a ver com, ao menos, este movimento em especial.
No que diz respeito à peça “A Noite é Mãe do Dia”, de Lars Nóren, o movimento é minha leitura à relação de Martin, o pai bêbado, à vida em geral e à sua relação com os membros da família, juntos ou separadamente. Eu me conduzi a essa leitura por vários motivos, a maioria deles derivados de minha observação por anos, e da biografia, do meu pai, que se envolveu com a bebida em conjunção com efeitos de psicose maníaco-depressiva, e que não soube aparentemente lidar com os problemas derivados dos efeitos da doença e da bebida, assim como de seus atos, em nossa família. O meu pai era o filho caçula de uma família de chilenos de origem escocesa, sempre foi muito mimado por todos, casou com minha mãe, que conduzia a família com mão de ferro, e quando se perdeu tentou retornar a questões de sua juventude, como por exemplo uma antiga namorada, a primeira, que ele reencontrou quando estava em fase maníaca da doença. A leitura mais ampla de minha mãe de tudo o que iria acontecer – os 9 anos de sofrimento familiar – foi que ele sempre foi um sujeito mimado e que não soube dar valor àquilo que tinha. Não sei bem qual é minha posição a respeito, mas, analisando de longe e até de perto o comportamento de amigos afeitos à bebida e que deixam com que ela – e seus problemas, anteriores ou posteriores – afete suas histórias, noto que em geral o bêbado incorrigível é um ser sem esperança, quase morto enquanto ser com possibilidade de escolha. E nessa leitura encaixo o movimento que estou propondo.
Considero que, em linhas gerais, os seres humanos são seres que nascem com a intenção de escapar de uma condição (o pré-nascimento, que ocorre num clima geralmente de paz) e com uma relação sempre indefinida com respeito a forças maiores, no caso Deus, ou família, ou sociedade, ou mesmo tecnologia, ou mesmo o destino, caso queiramos sair de situações externas ou motivadas por forças exteriores a ele. Nesse sentido, o movimento visa colocar numa conjunção a situação de paz do pré-nascimento ou do descanso fora do mundo (como no sono, ou no descanso no amor, ou no repouso em Deus ou outra entidade que lhe cause reencontro) com a busca de algo fora dele com respeito ao que ele se considera ou inferior ou em situação de embate compreensivo (no sentido inglês do termo, comprehensive). Ao contrário assim do outro movimento proposto, este não é para ser conduzido com violência ou rapidez ou mesmo oposição ativa contra alguma coisa. Mas ao contrário, ele deve ser conduzido com a lentidão típica a cada um que se defronta com essa situação, de sair do conforto da contrição para se dirigir a uma força externa, com a qual tem problemas de lidar. O movimento em si deve ser feito, alternadamente, com as duas pernas, por alguns segundos apenas, e no caso da contrição não sei bem como resolver (se existe uma posição única ou preferencial).
Por outro lado, como é possível perceber no primeiro movimento que eu, digamos, “bolei” (Movimento Nascimento-Luta em
http://teatro.rcontrera.com.br/2015/08/movimento-nascimento-luta.html), nutro uma profunda reverência, desconhecimento e mitologia sobre movimentos que reduzem a presença corporal ao mínimo e que, no limite, referenciam-se ao nascimento do ser humano ou mesmo dos animais. Nesse sentido, considero que pode existir uma relação entre a súplica, o movimento de estiramento acima citado, e a contrição (que, como o nome bem diz, atribui uma carga religiosa ou mística a algo que é dado, qual seja, a ausência de resistência em se estar no mundo ou ao se preparar para entrar nele). Em questão de referências, a contrição me leva mais à yoga, mas lembro-me que no karatê existia esse tipo de postura de paz, de ausência de reação, de nada – como diz o Bruce Lee, ou o Musashi, no Livro dos Cinco Anéis –, e que tudo isso, todas essas referências podem ter, e devem ter, realmente algo a ver com, ao menos, este movimento em especial.
No que diz respeito à peça “A Noite é Mãe do Dia”, de Lars Nóren, o movimento é minha leitura à relação de Martin, o pai bêbado, à vida em geral e à sua relação com os membros da família, juntos ou separadamente. Eu me conduzi a essa leitura por vários motivos, a maioria deles derivados de minha observação por anos, e da biografia, do meu pai, que se envolveu com a bebida em conjunção com efeitos de psicose maníaco-depressiva, e que não soube aparentemente lidar com os problemas derivados dos efeitos da doença e da bebida, assim como de seus atos, em nossa família. O meu pai era o filho caçula de uma família de chilenos de origem escocesa, sempre foi muito mimado por todos, casou com minha mãe, que conduzia a família com mão de ferro, e quando se perdeu tentou retornar a questões de sua juventude, como por exemplo uma antiga namorada, a primeira, que ele reencontrou quando estava em fase maníaca da doença. A leitura mais ampla de minha mãe de tudo o que iria acontecer – os 9 anos de sofrimento familiar – foi que ele sempre foi um sujeito mimado e que não soube dar valor àquilo que tinha. Não sei bem qual é minha posição a respeito, mas, analisando de longe e até de perto o comportamento de amigos afeitos à bebida e que deixam com que ela – e seus problemas, anteriores ou posteriores – afete suas histórias, noto que em geral o bêbado incorrigível é um ser sem esperança, quase morto enquanto ser com possibilidade de escolha. E nessa leitura encaixo o movimento que estou propondo.
Considero que, em linhas gerais, os seres humanos são seres que nascem com a intenção de escapar de uma condição (o pré-nascimento, que ocorre num clima geralmente de paz) e com uma relação sempre indefinida com respeito a forças maiores, no caso Deus, ou família, ou sociedade, ou mesmo tecnologia, ou mesmo o destino, caso queiramos sair de situações externas ou motivadas por forças exteriores a ele. Nesse sentido, o movimento visa colocar numa conjunção a situação de paz do pré-nascimento ou do descanso fora do mundo (como no sono, ou no descanso no amor, ou no repouso em Deus ou outra entidade que lhe cause reencontro) com a busca de algo fora dele com respeito ao que ele se considera ou inferior ou em situação de embate compreensivo (no sentido inglês do termo, comprehensive). Ao contrário assim do outro movimento proposto, este não é para ser conduzido com violência ou rapidez ou mesmo oposição ativa contra alguma coisa. Mas ao contrário, ele deve ser conduzido com a lentidão típica a cada um que se defronta com essa situação, de sair do conforto da contrição para se dirigir a uma força externa, com a qual tem problemas de lidar. O movimento em si deve ser feito, alternadamente, com as duas pernas, por alguns segundos apenas, e no caso da contrição não sei bem como resolver (se existe uma posição única ou preferencial).
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