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Julia Bobrow

Quando e como você se descobriu atriz?
Desde criança eu dizia que queria ser atriz. Na tenra infância minha brincadeira preferida era "fazer teatro", convocando amigas para contracenar. Até minha irmã era chamada para o papel de direção. Também sempre explorei o universo dos monólogos, agregando figurinos, cenários e um roteiro inventivo. Depois a família toda era chamada para a apresentação... E tem platéia melhor do que esta?

Você se sentiu lutando com outra opção ou desde cedo já sabia que o seu destino seria esse?
Sempre soube. Terminei o colegial e fui direto estudar teatro.
Você já quis ser como determinada atriz? Quem foi (ou é) essa atriz? O que ela tem de especial?
Eu tenho fases. Muitas atrizes me inspiram e dependendo do meu momento acabo "namorando" uma ou outra. Não nutro idolatria por ninguém, mas tento absorver tecnicamente o que as referências do teatro me apresentam.

Como atriz, você busca viver o papel ou, com um certo distanciamento, vivenciá-lo? Por quê?
Como atriz sempre quero entrar o maximo que conseguir no universo do personagem. Gosto de fazer laboratorio, ver filmes, pesquisar...durante o processo de criacao fico completamente focada, penso no personagem a maior parte do tempo. Mas não acredito em ator "tomado" em cena. Muito menos fora dela. Acho que tem que saber separar a vida pessoal do personagem.

Quais você considera que são os principais riscos em ambas posturas?
Eu só vejo risco em quem acredita que realmente é o personagem. Afinal, parece não haver limites em cena para um ator quando está "tomado". Em uma eventual cena de briga, o risco de machucar a pessoa que está contracenando com ele se torna palpável e real. Pior ainda: um ator que leva o personagem pra vida, sem conseguir separar a ficção da realidade. Como seria este ator interpretando o personagem Moritz, de Despertar da Primavera? Um suicida em potencial?

Qual autor você ainda não encenou mas gostaria com toda paixão?
Há muitos nesta lista (risos). Mas felizmente uma dessas paixões irei realizar em breve: um texto da Celia Forte.

Qual é a prova dos nove para se saber se um autor é bom o suficiente para ser encenado com dedicação?
Não tenho critérios tão objetivos para determinar qual texto é bom, qual não é. A emoção, as boas sensações, o prazer pela leitura, por exemplo, são pontos que levo muito em consideração. Muitas vezes fico absolutamente encantada por um personagem e isto sempre engrandece o texto. Portanto, não existe uma fórmula ou um padrão, mesmo porque estamos falando de uma literatura específica e grandiosa, mas passa pelo crivo do que muitas vezes estou vivendo, buscando como atriz para minha carreira profissional.

O que você busca num diretor?
Confiança artística. Valorização e crescimento profissional. Busco sempre diretores que agregarão à minha formação.

O que você não aceita de forma alguma (há algo nesse sentido)?
Ainda nao passei por nenhuma experiencia nesse sentido. Acho que vou descobrir se um dia isso acontecer.

Você prefere ser dirigida de perto ou deixada à vontade para procurar o tom certo?
Os dois. Gosto de ter liberdade de criaçao e quem deve auxiliar nisto é o diretor. Por isso há de haver confiança artística irrestrita. Do contrário, não funcionará.

Você já atuou com diretores iniciantes?
Sim. Estava no elenco de "ZABACKTIFIZACK" (primeira peça que Fabio Penna dirigiu) e no elenco de "Aguardo Noticias da Polonia" (primeira peça dirigida por Joao Fabio Cabral). Tambem fiz assistência de direção para Mika Lins, em sua primeira empreitada como diretora na peça "Dueto para Um". Foram experiências maravilhosas e tenho certeza que ainda veremos muitas peças incriveis dirigidas por eles.

O que você preza que qualquer diretor tenha, mesmo iniciante, no seu trato com os atores?
Respeito. Sempre.

Destaque alguma experiência como atriz que ficou marcada em você a ponto de mudar sua vida, de alguma forma.
Na noite da estréia de Rosa de Vidro (também minha estreia profissional como atriz e produtora), quando as luzes se acenderam para o agradecimento levei um susto ao ver meu pai, minha mãe e minha irmã aos prantos. Aquela foi uma das emoções mais intensas que já senti. Comecei a chorar junto, de felicidade. Aquela foi a confirmação necessária de que aquele era o meu caminho e que eles estariam comigo para tudo. Acho que por alguns segundos senti que só estávamos nós 4 naquele teatro, só depois fui reparar que além de lotado, estava quase toda platéia chorando.

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