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Rodrigo Bolzan

Quando e como você se descobriu ator? Você se sentiu lutando com outra opção ou desde cedo já sabia que o seu destino seria esse?
Como nunca pensei de verdade em fazer outra coisa da vida, dá para dizer que foi fazendo o verde na pecinha da escola aos 5 anos, depois no ano seguinte tive certeza quando dividi o papel
de vento com mais dois colegas; acho destino palavra meio ruim para esse caso, acho mesmo que tudo pode mudar, mas a luta para se manter numa profissão não é exclusividade de quem escolhe ser artista, acho importante reavaliar caminhos.

Você já quis ser como determinado ator? Quem foi (ou é) esse ator? O que ele tem de especial?
A gente vai vivendo e fazendo isso, tudo ao mesmo tempo; sempre quero ser o ator que gosto de ver em cena, ou atriz.... Vejo muito teatro, um tanto de cinema e cada hora quero ser parecido com um. A especialidade dele(a) em geral é fazer algo muito especial utilizando recursos pouco reconhecíveis, é querer me fazer ficar vendo pelo tempo que durar a situação.

Como ator, você busca viver o papel ou, com um certo distanciamento, vivenciá-lo? Por quê? Quais você considera que são os principais riscos em ambas posturas?
Acho difícil entender o que vc quer dizer com essa diferença..."viver ou com certo distanciamento vivenciá-lo"... A ideia de personagem/papel é algo que vive um profundo movimento e em poucas palavras a resposta soa clichê e apenas tangencia uma questão assim. Mas viver é do que se trata em qualquer cena. Fazer daquilo um momento vivo, diferente de qualquer outro tempo, para quem atua e para quem assiste; sobre distanciamento como técnica de atuação não me arriscaria a responder, mesmo.

Qual autor você ainda não encenou mas gostaria com toda paixão? Qual é a prova dos nove para se saber se um autor é bom o suficiente para ser encenado com dedicação?
Dizer um autor a se montar com paixão, bom , adotar um autor envolve paixão, em algum momento. Talvez tenha que dizer Beckett, paixão para vida toda. Mas prefiro pensar nos que ainda vou conhecer. A prova dos nove é prática e a de sempre. Ler a obra, isso em geral acontece junto ou por intermédio de algum parceiro antigo de vida/trabalho; mas saber se é o caso de virar cena, só testando, gastando o texto o mais que der.

O que você busca num diretor? O que te motiva a trabalhar com ele? O que você não aceita de forma alguma (há algo nesse sentido)? Você prefere ser dirigido de perto ou deixado à vontade para procurar o tom certo?
O critério para ser dirigido é o mesmo pro autor, envolve confiança, admiração, parceria que permite ouvir coisas ruins que o outro vê no seu estar em cena; os diretores que ficam perto por mais tempo são os que geram os trabalhos mais consistentes, não tenho nenhuma dúvida de que se faz necessário uma certa obssesão para isso.

Você já atuou com diretores iniciantes? O que você preza que qualquer diretor tenha, mesmo iniciante, no seu trato com os atores?
A pergunta seguinte não saberia responder, iniciante, desconhecido ...não entendo assim. Tem que começar de algum jeito, sempre através do outro. Se aproximar de grupos (de pessoas, não necessariamnete grupo de teatro) que se admira é um caminho; como falar de artistas desconhecidos? Desconhecidos de quem? Seria difícil demais adotar esse critério, relativamente desconhecidos...te peço desculpas e pulo, ok!

Que autores/diretores/autores relativamente desconhecidos você indicaria, pelo trabalho no ramo do teatro? Destaque alguma experiência como ator que ficou marcada em você a ponto de mudar sua vida, de alguma forma.
Também não poderia dizer qual experiência profissional tenha marcado profundamente a ponto de mudar a vida. Dá vontade de olhar para o período de formação...daí para não te deixar sem
um nome vou citar a revolução que foi ter encontrado, bem no coração desse tempo, o trabalho desenvolvido pela parceria entre Cristiane Paoli-Quito e Tica Lemos.

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