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Otelo

Diversas vezes tentei embarcar no bardo. Algumas vezes por Romeu e Julieta, outras por Hamlet mesmo. Mas, não sei se é por causa da tradução, o esforço parece vão. Não consigo introjetar o drama vivido. Não consigo achar simpatia nos personagens. Não consigo entender em que direção vão as coisas. E o monólogo de Hamlet parece esmaecido.
Mas há alguns dias, poucos, peguei finalmente Otelo. Aqui a coisa parece bem diferente. Em Otelo, o bardo caracteriza os personagens com sutileza quase indescritível, entremeando as farpas que parecem espalhar com lógicas carinhosas por detrás dos atos, costumeiramente entendidos. Iago já diz a que veio. Rodrigo também. E Otelo parece adquirir vida e cor tão logo aparecem as primeiras palavras em sua boca. É gostoso ler este clássico. Não sei bem o que acontece, mas por enquanto parece que apenas ele consegue funcionar. Vejamos.

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