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Uma gripe mal-curada e o palco

Pela primeira vez, estive diante da situação de precisar atuar estando bem atingido por uma gripe que estou tentando bem-curar, mas não tendo muitos bons resultados.
Não estava hoje tão mal assim. Conseguia respirar direito e a tosse não era tão forte quanto há alguns dias - permaneci de molho estes feriados, praticamente na íntegra, lendo e escrevendo até que bastante.
Mas aconteceu que, durante a primeira cena de Clavículas, deu-me uma substancial perda de força durante a fala e praticamente nada me sai da boca. Bem ao contrário de alguns meses atrás, quando, praticamente afônico, sem voz, consegui retirar sei lá de onde forças para fazer minha parte no palco. Foi durante À Queima-Roupa, do e com o Marião.
Fiquei olhando o Pablo, meu partner, com um olhar aparentemente desolado, tentando cumprir minha parte, e atribuir força ao personagem do segurança; força talvez seja errado dizer, melhor seria dizer tônus. E consegui, ao menos em parte, principalmente na hora de dobrar o braço do Pablo e bancar o fortão - algo que com certeza não sou.
Aconteceu porém que na cena com a Majeca poderia tudo ter descambado para o portentoso nada. Mas nada aconteceu. Minhas dificuldades de respirar pareceram coisa de outrora e consegui fazer meu bife com certa facilidade. Até deu para dar um toque especial às reclamações do personagem, algo que antes não existia, e acredito de que algo que a plateia deve ter gostado.
Em suma, é foda estar meio doente ao atuar. Mas também é um baita desafio que cumpre destrinchar na hora, com todos os riscos decorrentes e sempre sem pára-quedas. No palco, ou é ou é.

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